sábado, 22 de novembro de 2008

Atituna





Desta feita, o Notas&Melodias irá dar destaque a mais uma Tuna. Poderia abrir este artigo com uma das muitas tunas do nosso panorama tunante, algumas com as quais me identifico particularmente pelos laços de amizade criados ou pela sua exemplar postura e qualidade, mas elas que perdoem por ainda não falar delas (tudo a seu tempo) e, antes disso, até por cortesia, dar primazia às senhoras.

Fenómeno fulgurante no panorama tunante, nomeadamente na sua vertente feminina, a ATITUNA - Tuna Feminina da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade do Porto, merece um olhar atento.

Fundada a 5 de Outubro de 2006, esta tuna é claramente marcada por uma espontaneidade e singularidade muito “sui generis” onde as suas protagonistas parecem reavivar, em si, a febre do boom tunante de outrora, embora com uma maturidade resultante daquilo que o contexto actual, e experiência que mais de 20 anos de fenómeno, foi trazendo à comunidade tunante.

Uma questão de atitude, segundo as mesmas, envoltas num místico e genuíno vivenciar da cultura e tradição académicas, onde é notória a vertente do “correr la tuna”, pela praxis fortemente vincada do seu modus vivendi, onde os seus retiros e convívios internos cimentam um ser Tuna - onde o primeiro objectivo é o gozo próprio dessa condição, mais do que a criação artificial de um grupo com o fim exclusivo de “papar” troféus em certames.

Tive oportunidade de as conhecer, aqui em Lisboa, a minha terra de “exílio”, na qualidade de júri do IV Tradições – certame que acabariam por vencer.
Existem, não posso deixar de o dizer, claras parecenças com outro fulgurante fenómeno tunante: a TDUP. Aliás, segundo sei, a proximidade é grande entre as duas agremiações, e certamente muito terá ganho com isso a Atituna, já que a TDUP é uma mistura de castas nobres com provas dadas no negro mester.

A forma alegre e jovial destas jovens tunantes, a qualidade que apresentam em palco (e fora dele) tem merecido o reconhecimento generalizado, traduzido não apenas em inúmeros prémios arrecadados em certames, mas na simpatia que colhem em todos os quadrantes.

Alguns bons apontamentos vocais com um instrumental bem equilibrado, tornando o todo harmonioso e muito agradável de ouvir. Mas é a forma electrizante, o dinamismo e ritmo incutidos ao seu espectáculo que potencializam toda a qualidade que nelas se reconhece e, nisso, não é alheio, de todo, uma feliz (e certamente pensada) escolha de um alinhamento de temas que cativam, criam empatia e levam ao rubro as plateias, numa sequência em crescendo, coerente e magistralmente oportuna.
Uma coisa é ficar rendido à qualidade musical e artística de uma tuna, mas que não nos arranca da cadeira (mesmo que nos encha as medidas), e outra é reconhecer a existência de uma qualidade acima da média, mas onde cada sorriso, onde a alegria e a alma que trespassa naqueles belos olhos e linguagem corporal – através do canto, da coreografia, dos instrumentos ….. nos puxam para palco.

Não apresentam, em demasia, temas inéditos e o público, também por isso, não se enfada e agradece, porque gostamos daquilo que conhecemos e, mais ainda, de ficar surpreendidos pelas novas roupagens e interpretações dadas a temas com que nos podemos identificar e, até, estabelecer comparação. Mais fácil, por isso, então, de estar mais atento ao que se produz de inédito, quando esse aparece.

Pessoalmente, apenas faria crítica ao logótipo adoptado (reconheci algo muito parecido, ou igual, nuns botões que no outro dia vi numa retrosaria), já que nada identificativo de tuna ou do mester tunante ou mesmo académico, mas isso sou eu a pensar e onde parece ter havido uma adaptação de um desenho alheio (se estiver errado, certamente que elas terão todo o gosto em elucidar-me, e eu em ser elucidado – para a devida correcção).
Já quanto ao seu lema, “Ad Honoris Atitvdis Tvnae factvm est”, julgo que ele traduz a essência daquilo que as marca pela diferença e positiva, mesmo se me parece um latim muito macarrónico e numa sintaxe algo “confusa” (peço mais detalhes, pois poderá ser do meu latim estar, hoje em dia, já algo enferrujado).
Último reparo, para a dificuldade em obter vídeos da Atituna, já que parecem afastadas quer do youtube, quer do Youtunas (o que muito entristecerá os fãs), algo que falha quer no seu site, quer no seu blogue ou Hi5.

Termino endereçando os meus votos de felicidades e redobrados sucessos à Atituna, honrando e dignificando os pergaminhos tunantes de que tão bem têm sido embaixadoras.

Eu, e certamente muitos de nós, continuaremos atentos e a acompanhar o percurso desta jovem tuna, um dos mais recentes bebés da comunidade tunante nacional.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Os 25 anos da Tuna Académica da UTAD

Mais cedo não escrevi sobre o assunto, no desejo de trazer aos meus prezados leitores algo mais do que o assinalar, nu e cru, da efeméride que constituem os 25 anos sobre a fundação daquela que foi a primeira tuna académica a ressugir nos anos 80: a Tuna da UTAD.

Aliás, como já outros portais e blogues tinham referido esta data marcante, decidi aproveitar para tentar perceber e pesquisar um pouco mais sobre o assunto, antes de também, como não podia deixar de ser, dar destaque a este aniversário.

Infelizmente, a distância física que me separa de Vila Real, bem como a escassez de fontes (até mesmo de dados no site da dita tuna), não permitem uma reconstituição fiel da diagese do grupo, tanto quanto gostaria, hoje, de partilhar aqui neste artigo.

Tive oportunidade de conhecê-los, no início dos anos 90, quando, com a Tuna da UCP de Viseu, acompanhei a comitiva que participou nos famosos jogos tradicionais universitários que eram organizados na UTAD (nesse ano de 92 ou 93 - falha-me a memória, de momento - também a Infantuna lá marcou presença).

Nas imediações do Pioledo, lá travei conhecimento com a Tuna Académica da UTAD, numa tarde e noite de festa, com as tunas a fazerem as despesas da animação, a meias com a cerveja a rodos.


Estranhei, na altura, alquelas "gabardines" castanhas, que indiciavam as raízes populares e etnográficas em que assentou a fundação da Tuna Académica da UTAD, mas fora isso, eram um grupo de gente bem disposta e muito simpática, diga-se, só tendo pena de nenhum laço pessoal ter permanecido ( que muito ajudaria, agora, para também servir de fonte histórica).
Num outro blogue tunante é afirmado que a Tuna Académica da UTAD deu o mote à fundação da E.U.C e potenciou o re-arranque da TUP. Parece-me forçada essa afirmação, até porque a Tuna da UTAD, nos seu sprimeiros anos, era um fenómeno a nível micro-geográfico, numa época onde o fenómeno tuna ainda não ganhara embalo (algo que só sucederia com a fundação da E.U.C.- a que muito contribuíu o seu CD "Estudantina Passa") ou expressão regional/nacional assim tão generalizada.

Mas é algo que só os protagonistas desse tempo, na EUC e na TUP, poderão, ou não, confirmar.

25 anos, 25 velas sopradas sobre o reinício das lides tunantes no meio universitário é motivo de júbilo e festejo. Já repararam que muitos dos jovens tunos de hoje, muitos dos que estarão a ler estas linhas, não teriam ainda sequer nascido quando tal momento se deu? Como o tempo voa, como o tempo passa!


1/4 de século sobre a explosão do fenómeno ficando apenas alguma pena por não ter sido devidamente referenciado o caso da Tuna da UTAD no livro "Tunas do Marão", até pelas claras ligações e raízes populares de que esta tuna se revestiu durante os seus primeiros anos.

Fica por esclarecer se estes foram 25 anos ininterruptos, pois que me quer parecer que a Tuna Académica da UTAD teve momentos de menor fulgor que teriam coincidido com a sua dissolução ou suspensão e posterior renascimento por mais que uma ocasião (se estiver errado, agradeço a correcção) não se podendo falar propriamente em 25 anos de existência, mas sim de fundação.

Seja como for, é data e momento que muito nos devem dizer e, por isso, um agradecimento e parabéns aos protagonistas da época (que seria interessante ter num próximo ENT).


Laus Tunae


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tunas e Prémios Alcoólicos


Não é novo o assunto, pois já por diversas vezes abordado – nomeadamente no ptunas.
Contudo, julgo continuar a merecer atenção e discussão, de forma a propiciar uma devida reflexão.
Deste modo, trago, novamente, à ordem do dia, a questão dos prémios atribuídos à Tuna mais “bebedora” – prémio esse que vai assumindo nomenclaturas diferentes de certame para certame, mas cuja intenção e objecto é o mesmo: valorizar a tuna que mais bebe num determinado espaço de tempo.
Certamente que todos estão cientes de que a imagem da tuna se faz, em muitos casos (não poucas vezes, em claro prejuízo da tuna), por sinédoque, sendo que mais facilmente os rótulos se fixam em torno dos aspectos menos abonatórios do mester tunante, em torno de excessos, muitas vezes pontuais (e que nem serão a regra). Por demasiadas vezes a imagem da tuna ficou inapelavelmente, e irreversivelmente, colada à de arruaceiros bêbados ou jovens estudantes que, ao abrigo da música, perpetram actos e atitudes, subsidiados pelo álcool, que em nada dignificam o mester tunante,a tuna e, obviamente, os tunos.
Vezes sem conta a tuna é apreendida não apenas como estudantes que tocam e cantam (com os seus cordofones), mas como grupo de boémios ébrios que criam desacatos ou fazem figuras tristes – algo prontamente aproveitado pelos detractores da tuna e/ou a comunicação social, marcando, no imaginário da sociedade civil, um rótulo que destitui a tuna daquilo que, de facto é, ou deveria ser.
Pergunto-me se este tipo de prémios traz alguma vantagem, quando um certame parte do princípio que as tunas, para provarem a sua “qualidade”, são “obrigadas” a competir num exercício de beber por beber, ou beber para arrecadar um prémio. Não se estará a trocar a ordem natural das coisas?
Do meu ponto de vista, o certame é um local de encontro onde o convívio leva à festa em torno das trocas e intercâmbios entre participantes, muitas vezes em torno de comida e bebida. O que era algo natural, consequência normal do ambiente de festa e convívio, tornou-se uma “obrigação”, onde os grupos são levados a beber sem conta, como se isso fosse um fim em si mesmo, ao invés de ser um qualquer complemento circunstancial de instrumento/utensílio.
Falo com conhecimento de causa, dado que, num passado já longínquo, também participei, mesmo que apenas por uma vez, num certame com tal prémio a concurso. Se a ideia era ficar mais para lá do que para cá…… sem sombra de dúvida que a maioria passou o equador.

Na ânsia de procurar ser sempre diferente do festival X ou Y, no desejo de “inovar”, inventam-se prémios sem nexo, avaliando não o que é de Tuna, mas a simples resistência ao alcóol ou capacidade de o absorver em tempo recorde.
Obviamente que o dar outro nome, num claro eufemismo que nada esconde, não retira o pernicioso que tal intenção suporta.
A Tuna não é isto, não o deve ser.

Mas desengane-se o meu prezado leitor, se este artigo soa a puritanismo. Nada disso!
Gosto de beber os meus copos, como qualquer um (seja o conteúdo qual for – embora eu prefira vinho, cerveja, uma aguardente velha, cognac ou whisky de qualidade…..com um puro a acompanhar).
Natural, por isso que, num ambiente de são convívio, os tunos se reunam à volta de um néctar e uns petiscos. Ainda assim, como referi, tal surge, ou assim deve ser, de forma natural, não sendo um fim em si mesmo, e muito menos algo artificial que se faça para arrecadar uma qualquer estatueta.
Quando as tunas “forçam” o aspecto etílico, no puro fito de ganhar um prémio, colocam-se nos antípodas daquilo que uma Tuna, que se preze, deve ser (na sua postura e conduta), deixando a espontaneidade no saco, deixando a pele de Tunos para assumirem o abjecto papel de alcoólicos, nada anónimos, e inconsciente teenagers que ainda acham que apanhar uma borracheira ou beber muito, e fazer disso montra, é algo que prova a sua maturidade ou qualquer outra coisa - antes pelo contrário.



Uma coisa é ficar com um grão na asa (ou mesmo sem asa) por beber e outra é beber já no intuito de perder o voo todo (e figurar na lista dos pacientes à espera de um transplante de rim ou fígado).
Beber socialmente não é razão de prémio ou concurso, quando a melhor das recompensas é o convívio estabelecido, onde os copos são parte e não o todo. Premiar o beber sem rei nem roque é premiar a mediocridade e dar razão, e motivos, a todos quantos apontam aquele dedo inquisidor e reprovador que ninguém gosta (porque nem todos fazem do beber a sua razão tunante).
Mas, nisto, a culpa reside tanto em quem promove como nos que aderem. Mas está visto que muitos tunos são capazes de tudo para ter mai sum prémio na vitrine, seja ele qual for.

Sejamos responsáveis, tenhamos o cuidado de perceber o exemplo dado, haja o bom senso de saber ser e estar, sem excessos e sem ortodoxias.

Resta-me, assim, lamentar que se publicite a tuna, recorrendo a este tipo de artifícios que em nada dignificam um grupo couja principal função não é beber, cujo ranking não se mede em graus de alcolémia no sangue, cuja existência não assenta, de todo, no destilar da sua essência.

A Tuna não deve ser reduzida a um incauto participante de um qualquer rally das tascas e merece outro respeito. Há muito por onde premiar a excelência e qualidade das tunas, mas certamente que não é por aí.

E fico-me por aqui. Vou beber uma cerveja fresca cujo o único objectivo é matar a sede e o gosto, sem pretensões de prémios, que sempre me ensinarem que é preferível a qualidade à quantidade.

Alguns Festivais onde isso sucede ou sucedeu:

I Boémio
III APIADÉRE
III Sellium
IX Certamen de Tunas "Ciudad de Albacete
VIII FITU Bracara Augusta
VII FITUAII CELTA
III CELTA
FITAl Pax - Julia
III FITAl Pax - Julia
V Templário
I FITAUMB
VII fESTA - Cidade de AbrantesV Estudantino
FARTUNA (onde o prémio é conhecido por "Marafada")
IV e V Estudantino (pelo menos)

entre outros.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tunos em Museu de Cera

No México, mais precisamente em Guanajuato - bem no coração do país, fica um museu de cera cuja  particularidade é, nele, apresentar a figura de 2 tunos que ilustram a Estudiantina.
Sendo a Tuna uma tradição centenária na América do Sul (desde a década de 80 do séc. XIX que lá se registam dezenas de exemplares, populares, estudantis, masculinas, femininas....), nada mais natural.


Pena que, por cá, uma tradição que também é centenária (mesmo com os interregnos que conhecemos), não seja também ela assim lembrada.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Circos tunantes



Hoje é para falar das Tunas em palco.
Não irei falar de música ou bater na tecla dos prémios, mas apenas salientar uma questão que tem vindo a ser recorrente em alguns espectáculos proporcionados por determinadas tunas.
Bem sabemos da importância com que se deve revestir a apresentação de uma tuna em palco. Não basta tocar e cantar bem, mas também é preciso adornar o todo com a componente cénica, já que, como diz o chavão popular, “os olhos também comem”.

Muito certo. Neste capítulo, podemos afirmar que as Tunas, grosso modo, vão conseguindo cativar o público com espectáculos equilibrados, onde a teatralidade e o jogo cénico são de grande qualidade – potenciando o produto musical apresentado (há, de facto,espectáculos/alinhamentos muito bem conseguidos, diga-se), de que dou o exemplo da Templária no Estudantino de há 2/3 anos.

Mas se, na generalidade, vamos assistindo a espectáculos de qualidade, não é menos verdade que, por outro lado,também somos presenteados com peças que se revestem de ridículo e destoam (porque sem nexo e coerência com o alinhamento, como que metidas às 3 pancadas), saídas de uma autêntica arte circense ou de um show-of que nada traz de mais valia.

Na tentativa de agradar sem olhar a meios, sem sequer ter a noção do fosso criado entre o que é Tuna e aquilo que nada tem a ver com a postura e cultura da mesma, repetem-se cenas que travestem a Tuna, mas a que todos acham graça ou fecham os olhos no costumeiro "nacional porreirismo" que grassa nesta comunidade.
Sucedem-se os episódios caricatos, por vezes ridículos, onde se força e leva ao limite o bom gosto, a coerência de uma Tuna em palco, numa gratuidade de mini-shows de mau tom ou descontextualizados, forçados e, por vezes, de mau gosto (como é o caso de mini-stand-up comedy, pausas para anedotas sem grça nenhuma e sem qualquer utilidade ou ligação como o alinhamento musical).

De que falo?
Bastaria referir o uso de patins no último CELTA, ou ainda no XVIII FITUA, por parte do porta-estandarte da Azeituna, o show de Hip-Hop no VIII INVICTA (salvo erro, por parte da Cartola), o porta-estandarte e pandeiretas das Moçoilas, vestidos com um fato de treino - no IV Tradições do ano passado, ou certas tunas de enfermagem que tocam de bata branca e apresentam sketches com uma parafernália de macas e material médico.
Falo de tunas que são capazes de ocupar mais de metade da sua apresentação com anedotas baratas e paleio de 15 tostões furados.

Julgo não haver necessidade deste tipo de recursos para inovar e cativar o público, principalmente quando certas inciativas colidem com a postura, cultura e respeito que a Tuna deve assumir perante o público, e principalmente perante os seus pares.
Existem muitas formas de agradar e potenciar um espectáculo (e temos tão bons exemplos disso), sem que tal se faça com a inclusão de “modalidades” alheias à Tuna, com números circenses que desviam do essencial, onde importa é impressionar e encher o olho ou mostrar que um dos seus elementos é muito bom em baras paralelas e por isso deve ser incluído, de qualquer maneira, no alinhamento.

O caminho da excelência não passa pela mediocridade de alguns expedientes que por muito giros que sejam (noutros contextos e locais), por muito façam rir e arranquem palmas, não pertencem ao palco tunante. Cada macaco no seu galho. O público anónimo e pouco avisado sobre a cultura tunante pode ser enganado, mas nem todos se acomodam com areia nos olhos!

Só falta um show de artes marciais, uma rubrica de culinária, ou um grupo de bailarinos do Conservatório Nacional a fazerem coerografias do lago dos cisnes durante um tema de serenata. Já agora, umas demonstrações de skateboard ou ginástica acrobática em músicas mais alegres ou um grupo de Sevilhanas em temas interpretados na língua de Cervantes!!!!
Só como sugestão, já que pegou moda o bailar da capa, por que não vestir o dito de toureiro e largarem um toiro, fazer uma pega de caras, ou vestir um grupo de tunos em campinos, po-los a cavalo, enquanto tocam um corridinho?

Desculpem a ironia e um certo sarcasmo, mas como tão bem terão percebido, imaginar disparates e cenas malucas sem nexo é um exercício muito fácil. Já a exclência, a classe e a qualidade de montar um espectáculo, com a inclusão de números de cariz mais teatral, com coerência (e dentro do âmbito tunante), exigem um esforço intelectual maior e, por isso, um maior critério e sentido crítico que não se conjuga com facilitismos ou recursos “pimba”.

Estou certo que os casos mencionados, e outros, podem ser corrigidos, tendo em conta que se reconhece, nesses grupos que os subsdidiam, qualidade artística mais do que sobeja para fazerem mais e melhor!

Fica o reparo.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Repertórios/Alinhamentos tunantes

...

À hora que redigo estas breves linhas, estou comodamente sentado numa esplanada, bebendo uma bejeca e aproveitando a sobrinha preciosa e a aragem fresca que tornam tão saboroso este fim de tarde.
Esta é uma altura de alguma descompressão, para mim pelo menos, apesar de ainda estarem, algo, distantes as tão desejadas férias.
Agora, como mais tempo, decidi escrever sobre repertórios.

Todos nós estamos plenamente cientes do quão difícil é o definir de um alinhamento musical para um espectáculo, mas acima de tudo o urdir de um repertório que marque uma temporada, ou seja o plano musical estipulado para ser executado ao longo do ano.

Quando a Tuna inicia o seu ano de actividades, convirá desenhar um conjunto de temas a serem executados (já prontos); dessa lista serão, então sim, escolhidos os que melhor se coadunam com a natureza desta ou daquela actuação/espectáculo.
Deste modo, existirão, à partida, dois repertórios: o alargado - que assume as funções de cancioneiro da tuna (conjunto de todos os temas executáveis/sabidos) e o restrito, alinhamento constituído pelos temas eleitos para determinada actuação (que pode variar, conforme a natureza do evento, público, etc.).
A estes dois itens, convirá não esquecer a necessidade de definir o conjunto de temas a serem preparados, com vista à sua inclusão no cancioneiro (constituindo-se possibilidade de serem “convocados”) e posterior execução (quer para palco, quer para serem executados fora deste - como temas lúdicos e de cariz informal).

É certo que, depois, os novos temas podem ser agrupados para constituírem um alinhamento, per si (o que sucede na apresentação de um novo repertório ou, por vezes, na edição de um CD), ou então serem introduzidos gradualmente, a par com temas mais antigos.

Mas se assim é – e nada disse de novo, o que importará reflectir é aquilo que constitui o alinhamento num determinado espectáculo. Se é certo que uma tuna pode possuir vários repertórios pré-definidos, não deixa de importar o questionar da sua lógica e dinâmica temática e musical.

Que critérios assistem à elaboração e definição de um repertório numa tuna e quem define o mesmo?

A questão do repertório vem na sequência da experiência empírica e reflectida do muito que já vi e ouvi, bem como da própria experimentação.

O que melhor convém à tuna, nomeadamente num certame competitivo (e falo deste caso por ser aquele onde se reconhece haver maior cuidado, bem como ser o evento onde mais vezes se podem observar tunas a tocarem um repertório minimamente preparado e definido com tempo)?

Bem sabemos que, e como já salientava o Eduardo Coelho no ENT de Viseu, as regras de uma boa rádio é, num conjunto de 3 músicas, emitir um tema reconhecido, depois um sucesso do momento e, então sim, entremear com uma estreia/inédito.
Se olharmos por esse prisma – que pessoalmente acho apropriado, no que concerne a uma boa gestão da relação e dinâmica tuna/público, então estaremos a falar na necessidade das tunas moderarem na quantidade, por vezes excessiva, de executarem originais a metro.
Por outro lado, tal diz-nos que o lugar dos covers ou sucessos tunantes (que se deixaram de ouvir em palco, infelizmente) deve ocupar 2/3 do nosso repertório, de modo a potenciar o que, depois, a tuna apresenta como seu.

Pessoalmente defendo essa tese, mesmo se ela é, reconhecidamente, desmontável, mediante os mais diversos argumentos (que eu poderia subscrever, já que também sou autor/compositor), daí que não é líquido - nem tal deve ser tido como dogma ou receita infalível.

Mas, mais do que isso, queria abordar a questão do fio condutor, do litmotiv musical que serve de esqueleto ao espectáculo.
Pelo que muito vi, e ouvi, uma grande parte daquilo que as tunas constroem em termos de alinhamento não passa de uma “manta de retalhos”, onde os temas se sucedem sem qualquer relação entre si, sem qualquer gradação temática, cénica ou musical (sem nexo, para ser mais exacto).
O que, por norma, acontece, é que os temas entram no alinhamento à medida que são escolhidos/criados e ensaiados, sendo que são estes que subordinam o repertório e não o contrário: repertório (plano) que estabelece os critérios de escolha das músicas a serem executadas.
Assim, assiste-se a uma cultura do “improviso” e “casualidade”, onde o repertório fica ao sabor da “espontaneidade” (um elemento que acha aquele tema giro e o traz para o grupo – e aí, conforme a sua influência neste, o tema sobre nas prioridades das músicas a serem ensaiadas) ou da inspiração “acidental” (onde se repete o mesmo processo – o peso que cada um tem na tuna ajuda, e muito, a ultrapassar, ou não, as “listas de espera”, quando as há).

Será que a mera qualidade/beleza dos temas, em si, justifica a sua inclusão “desordenada” ou meramente cronológica?
Pessoalmente, julgo que não. O que pode ganhar em diversidade, perde numa certa homogeneidade de sentido e pertinência (mesmo se, como já disse, nem sempre isso é líquido).

A que deve “subordinar-se” o repertório/alinhamento de determinado espectáculo?
A meu ver, há que estabelecer objectivos: o que pretende a tuna transmitir ao público? Que mensagem e em que moldes?

É no traçar de metas que o repertório ganha textura e sentido; e aí existe uma multiplicidade de possibilidades e variantes a explorar: podemos levar o público a fazer uma viagem pela nossa lusofonia, abordar o tema das descobertas, prestar homenagem à Amália Rodrigues, ao fado de Lisboa, à marcha popular ou canção ligeira, à música popular, aos estudos e vida de estudante, ao amor (retratando os vários passos da sua conquista, perda, reencontro, etc.), ……..

Dir-me-ão, então, que falo de temática. Falo mesmo!
Mas se importa pintar um assunto, uma mensagem – que se pretende transmitir, convirá não esquecer a moldura.
Aí falarei de dinâmica musical.

Um espectáculo que passa pela conhecida “rajada de metralhadora” agasta, cansa e perde. Nenhum tema pode ser igual ao anterior na intensidade, sentimento e forma de abordagem. Não pode ser tudo a metro e tudo de rajada!

A escolha da temática deverá levar em linha de conta, também, esse suporte. Uma sucessão de músicas tristes e “choradas” poderá ter um resultado indesejado, do mesmo modo que temas de deixar a plateia aos pulos, de princípio ao fim, cansará e eclipsará os temas de permeio.
Assim, importa estabelecer uma gradação, ou pelo menos exponenciar momentos, gerindo sentimentos e empatias (com mais ou menos picos).
Importa por o público à escuta, perceber como deixá-lo a sambar nas cadeiras, tal como o por "em sentido", mas tudo de um modo que potencie cada parte, cada tema, para que cada um se constitua único.

Numa visão mais global, haverá que determinar um princípio, meio e fim, onde tal se perceba, num esforço de gestão do espectáculo, do público e, não o esqueçamos, da própria tuna.
A tudo isto, a pertinência dos aspectos cénicos que servem, também, de moldura e são potenciadores do produto musical, ajudando a criar laços entre o palco e as coxias.

A quem cabe definir tudo isso?

Cabe, em primeira instância, à tuna, a qual precisa de estar em consonância e harmonia, a qual precisa de se identificar e gostar daquilo que toca e canta – definindo um tema ou área temática. Depois, ao Magister ou conselho artístico, a quem compete a escolha e preparação dos temas a serem trabalhados, mediante critérios que confiram senso, pertinência e qualidade ao espectáculo, conquanto encontrem, também, eco nos demais tunos (embora, nestas coisas, não se possa deixar tudo ao sabor da democracia, posi cada cabeça sua sentença e para alguma coisa serve quem está indigitado para coordenar os aspectos musicais e artísticos).

Tudo isso é algo que se define no “antes” e nunca no “depois” – e raramente no “durante”.
Planificar, com tempo, é, ainda o método mais seguro de construir bem, ou menos mal!!!!


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tunas e Carnaval



Após algum tempo de paragem – sempre útil para criar algum distanciamento e maior discernimento, de novo me sento no scriptorium para tecer mais uns quantos considerandos (desde já pedindo desculpa aos leitores deste blogue pela ausência – mais prolongada do que esperado).

Esta quadra carnavalesca, a qual passei na minha bela Viseu, proporcionou-me tempo para algumas reflexões sobre o papel da Tuna portuguesa e a função que a mesma foi assumindo, pelo menos de há 1 século e pico a esta parte.
Ouvi, nestes dias, numa estação televisiva, que os festejos do nosso carnaval ("carne vale": vale comer carne, antes das renúncias quaresmais), em muitos pontos do país, estavam a arrepiar caminho, reabilitando as suas formas mais primitivas e genuinas , em detrimento desta “globalização” que presta vassalagem ao samba carnavalesco do outro lado do charco. Deste modo, cada vez mais são as manifestações do entrudo bem português e as diversas formas da sua vivência – num claro regresso às origens e retoma das nossas tradições e identidade muito nossas.
Se assim é, de facto, e há necessidade de não delapidar o que é nosso (sem que isso impeça os corsos e festejos mais similares ao carnaval carioca), promovendo a nossa cultura ancestral, não posso esquecer o que aprendi sobre Tunas e o seu papel de proa, no passado, como animadoras, participantes e imagem bem presente nas celebrações efusivas destes loucos dias de jocosa parafernália de sons, partidas e brincadeiras várias. Com efeito, são muitas as referências às tunas de mãos dadas com o Carnaval e, para não ir mais longe, citaria a Tuna do OUP, quando, no seu historial refere "Mais tarde, no Carnaval de 1897, realiza nova digressão a Espanha, apresentando-se em Santiago de Compostela..." (in Site do OUP)
Onde estão as nossas tunas, nessa que, historicamente, é a época mais propícia ao desfile, à mostra e promoção do “correr la tuna”?


Nota: Recordemos que muitas tunas, nomeadamente em espanha, se fundaram em época carnalesca, como é o caso da Estudantina/Tuna Compostelana criada no Carnaval de 21 de Fevereiro de 1876 ou a Tuna de Múrcia em 1932. É facto que, antigamente, as tunas surgiam de forma espontânea para responder a certos eventos, como o Carnaval, extinguindo-se/desmobilizando-se de seguida. Mas não são poucas as que, posteriormente á sua criação espontãnea, acabaram por prolongar a sua existência, institucionalizando-se.
Também por cá, há inúmeras referências à Tuna ligada ao carnaval.


Como certamente sabem, as tunas eram, noutros tempos, em ambos os lados da fronteira, presença assídua dos desfiles de carnaval, bem como nas diversas actividades ligadas a esses dias de permissividade (entremezes, representações, sátiras, saraus, representações, bailes e concertos) onde todos os excessos eram tolerados (no caso das tunas, digamos que seriam “mais tolerados” do que o costume), sendo os tunos os timoneiros das pantomínias e demais expressões das celebrações que antecedem a Quaresma.
Uma altura em que se comia e bebia sob os auspícios de muitos comerciantes mecenas (nomeadamente os das tabernas), se largavam uns trocos aos bonacheirões tunos que estendiam a mão (neste caso os chapéus ou capas) para pedir “ajudas de custo” (já que não tenho conhecimento de haver propriamente laivos de mendicidade à boa maneira sopista de outros tempos).

Recordo com saudade, nesse âmbito, uma ida da minha Tuna até terras de Cuidad Rodrigo.
Após termos amealhado um pé de meia nas muito recompensadoras Janeiras que cantáramos de porta em porta, rumámos àquela urbe com o único intuito de festejar o carnaval del toro que é lá muito afamado. A convite de ninguém, apenas porque assim nos aprouve, fomos um pouco à sorte procurando diversão e um momento de convívio e festa. Arranjámos um sítio para pernoitar e, depois, foi desfrutar pelas ruas, cantando e tocando, juntando-nos às centenas de foliões que enchiam as ruas.
O facto é que tal não passou desapercebido e, sem o esperarmos, estávamos no salão nobre da cidade, recebidos pelo Alcaide local que nos presenteou com alguns regalos. Daí em diante, passáramos a ser uma das atracções ambulantes dos festejos. Onde fossemos era choverem convites para tocar, comendo e bebendo à borla nos muitos “tascos” que pululam naquelas tão peculiares ruelas.
Regressámos a Viseu cansados, mas satisfeitos por aquela que foi a primeira grande aventura enquanto tuna, e logo à boa maneira tradicional, revestindo aqueles dias da verdadeira espontaneidade tunante e revivendo o que, no passado, fora uma tradição muito apreciada por todos (e reconhecidamente a época estival das tunas por excelência), com claros ganhos para a imagem e promoção da Tuna.

Pelo seu carácter irreverente, folião, extrovertido e popular - através da sua música, do seu modo de estar (pelo contacto com a população), não encontro, para mim, lugar mais adequado, do que a época do Carnaval para a nossa Tuna se mostrar e aproximar da sociedade - que não se resume à que compra bilhete ou senta o “dito” num banco de auditório. Por que razão, então, existe tal omissão e vazio tunante nestes festejos?

A Tuna vive demasiadamente confinada a teatros e auditórios, quando seu lugar é, também, na rua, nas tascas, sob balcões, varandas e janelas, no meio da praça , disputando amizades ao invés de “mendigar”, por vezes belicosamente, taças e medalhas que ficam à mercê do pó - só para obter “pedigree”).
O lugar das tunas é também no contexto beneficente (que é uma das características mais antigas do seu mester).

Voltem as tunas ao Carnaval, deixando-se de alguma “presunção elitista” e "festivalite aguda"! Saiam do salões, auditórios e teatros, que cheiram a mofo, esquecam, por momentos, as competiçõese os profissionalismos excessivos e venham divertir, e divertir-se, venham ser Tunas para o verdadeiro palco: a rua; para o verdadeiro júri: o povo anónimo!!!