terça-feira, 24 de março de 2009

Tunas, Claques e Efeitos XPTO

Um breve debruçar sobre uma questão que, em si, nada tem de discutível, mas que merece atenção pelo uso que lhe é conferido, revestindo-a de arma de arremesso, de pau de dois bicos.

Começa a ser comum, um eco cada vez mais reincidente, ouvir-se falar na influência que supostas claques organizadas têm, em certames competitivos, sobre as decisões do júri. Pelo menos é o que mais se ouve dizer a alguns pacientes de azia crónica ou novos arautos das teorias tunantes da conspiração. Parece ser, agora, o novo argumento para enjeitar as coisas, servir de consolo ou encontrar quem case com a culpa.
Por outro lado, também, amiúde, se ouvem vozes (mais tímidas, neste apartado) a acusar de favorecimento as tunas que apresentam Power-Points e outros adereços com recurso às novas tecnologias e afins.

Onde, e em que, nos ficamos?


Para já, escuso voltar a falar da necessidade de jurados avisados, entendedores não apenas de música, mas também, em igual medida, de Tunas. Isso ajudaria a saber colocar cada coisa no seu devido lugar e estabelecer o que é essencial e acessório.


O fenómeno das claques não deixa, contudo, de aguçar curiosidade, porquanto, principalmente numa altura em que a Tuna já deixou de ter o impacto que teve outrora e a crise entra pelo bolso de todos, nos perguntamo como se arregimenta tanta gente para o efeito - às vezes implicando deslocações a distâncias consideráveis e que são onerosas para a carteira do sempre teso estudante.
Que existam claques espontâneas, nomeadamente nas respectivas academias, é natural, mas é inesperado ver uma tuna que se desloca 100 ou mais Km (mais, neste caso) e leva atrás de si "meio mundo". Louva-sea "affición", mas estranha-se esse ardor.

A pergunta é óbvia: o que move esta gente?
Alguns dirão que são parte da táctica da Tuna apoiada, para vencer o certame.Outros dirão que são o clube de fãs composto maioritariamente pelas mulheres, famílias, amantes, namoradas e, natural, pro isso, que queiram assistir (em alguns casos, dirão algumas "fãs" que é para ter os meninos "debaixo de olho")

O que a mim mais me aborrece, numa sala, não são as palmas mais calorosas dos apoiantes ou aficionados, mas as manifestações que transformam o público em autênticas claques de estádio de futebol, quando se trata de saber estar numa sala de espectáculo  - porque de um "concerto" de trata e não de uma partida de futebol.


Como jurado, já presenciei este fenómeno que me passou totalmente ao lado. Aliás, se prémio houvesse para a melhor claque, algumas mais ruidosas eram liminarmente eliminadas e evacuadas (tal a forma desbragada como algumas se comportam).

Não estou em crer que as claques possam influenciar um jurado isento e sério, até porque o jurado tem uma posição e um contexto diferente (está para avaliar) do público (que está para apreciar o show), público esse que oscila na capacidade de prestar atenção rigorosa a tudo e todos de princípio ao fim.

Sobre claques, valerá explorar, novamente (mas noutra altura) o assunto. São uma lufada de alegria e calor humano, na devida conta, peso e medida.

Sobre projecções (que começam a ser, cada vez mais, um recurso comum), seria bom recordar que o aspecto cénico d eum espectáculo é, também ele, importante. Se há quem não lhe preste, intencionalmente (ou não), atenção não pode, depois, fazer o papel de "prima dona" ofendida só porque há quem pense um espectáculo de forma mais global.

As projecções são, como tantos outros recursos, meros acessórios e adornos que contextualizam e emolduram o quadro. São certamente potenciadores se o produto contido for bom, mas perniciosos e altamente prejudiciais se servem de embalagem a um produto de má qualidade ou estragado (pela óbvia incoerência e o gorar de expectativas criadas pelo recurso usado).

A essência é a Tuna. Tudo o resto é periférico e acessório.

Pena é que, a par com as novas tecnologias, não se pense em aspectos cénicos mais convencionais, em palco. O reproduzir de situações e locais. Variar os adereços ou pequenos cenários,dar moldura ao espectáculo é um mundo por explorar.
Falta dar espaço ao "Tuno-Actor", àquele que representa o que canta (um pouco à semelhança da ópera, mas em versão tuna), mas isso sou eu a pensar prós meus botões!