quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mitos sobre a Históra das Tunas

Deixo aqui, apenas, alguns excertos, que por aí pululam, sobre a história, origem ou cultura tunantes que não passam de mitos, lendas, de afirmações totalmente romanceadas e sem qualquer rigor ou verdade histórica.


A prática utilizada foi simples: abrir o Google e procurar (como sucede, nestes casos, para pesquisas na net) por "História das tunas" e/ou "Origem das Tunas" e extrair as citações que se seguem (com o site em causa devidamente identificado).

"Certo califa lendário de Tunes (hoje capital de Tunísia), foi considerado “rei” de grupos de ociosos que deambulavam pelas ruas, tocando, em instrumentos de corda, canções populares, ao mesmo tempo que pediam dinheiro ou comida para o seu sustento.Este costume, passando para a Espanha pelo século XVI, foi adoptado por estudantes boémios, a denominarem-se tunos e os seus agrupamentos tunas; e sucessivamente difundiu-se pelo países onde se falava o castelhano, como por Portugal quando do domínio dos Filipes." (in http://tuna.med.up.pt, http://tunadestes.no.sapo.pt/tuna%20no%20lestes.htm e http://cadernos-minhotos.blogspot.com)

Nem Califa, nem meio califa! Não passa de lenda, de romance, uma estória ficcionada. Volto ao Califa mais abaixo.



"Durante a idade média, aliás, o comportamento boémio dos estudantes universitários, que viviam como trovadores e saltimbancos era um fenómeno comum por toda a Europa. A este tipo de estudantes dava-se o nome de Goliardos." (in http://www.estatuna.ipt.pt/,http://tfufp.ufp.pt/historial.htm, Pedro,Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com http://cadernos-minhotos.blogspot.com e http://www.tauc.net/)

Os Goliardos são um grupo bastante restrito, que se desenvolve em torno dos seminários e estudos eclesiásticos, constituído por sacerdotes ou seminaristas "dissidentes" e folgozões. Sobre Goliardos já se escreveu neste blogue, evito, por isso, adensar este artigo.



"Foi no século XVI que se formaram as Tunas como as conhecemos hoje. "
(in http://www.estatuna.ipt.pt/ e http://webapps.fep.up.pt/tafep/site2/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=14 , Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com , http://cadernos-minhotos.blogspot.com e http://www.tauc.net/)

As Tunas, propriamente ditas, formaram-se no séc. XIX. Não havia Tunas no séc. XVI "tal qual as conhecemos"!!! Havia tunos, eram chamados " estudiantes de la tuna" aos grupos de estudantes que tocavam e folgavam, mas como adjectivo e epíteto (como quem chama "delinquente"), e não com a concepção formal e institucional que mais tarde viriam a ter (e assumir).


"Assim, quando o nome sopista deixou de representar a realidade (os estudantes passaram a tocar para se divertirem e não para sobreviverem), tornando-se depreciativo, os grupos de estudantes de tradição sopista começaram a intitular-se Tunas." (in http://www.estatuna.ipt.pt/ , Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com e http://www.tauc.net/)

Falso, pelo acima dito, na anterior citação!



"As Tunas em Portugal surgiram apenas em meados do séc. XIX. Conta-se que um grupo de estudantes de Coimbra se deslocou, um dia, a Espanha e, observando o sucesso que as Tunas por lá faziam importaram a ideia para o nosso país. No entanto, é muito díficil definir qual a Tuna mais antiga do país." (in http://www.estatuna.ipt.pt/ , http://tunadestes.no.sapo.pt/tuna%20no%20lestes.htm, http://webapps.fep.up.pt/tafep/site2/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=14 e Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com )

Conta quem? É facto, bem documentado, que estudantes de Coimbra se deslocavam a Espanha, em comitivas, para participar de eventos (e, assim, teriam contacto com as Estudiantinas locais), contudo Coimbra vê nascer a sua Estudantina, em 1888, em consequência da visita da Tuna de Compostela nesse mesmo ano (e não de outro modo). Quanto a definir a Tuna mais antiga, teremos de saber de que tipo de tuna se quer falar, académica ou universitária. Difícil não é, pelos dados disponíveis, mas pode ser impreciso, porque sempre passível de surgir novo documento que refira existência anterior à Tuna X ou Y.




"(...)a Tuna de Ciências da Universidade do Porto também remonta ao início do séc. XX, entre outras." (in http://www.estatuna.ipt.pt/, Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com e http://www.tauc.net/)

Chego a questionar-me de onde vem tão prolífera mente que inventa factos e ocorrências deste tipo, e se tal é produto de ignorância genética ou intencional. Provem-me, documentalmente, a existência de tal grupo, quando é sabido que, na U.P., o primeiro grupo de faculdade a surgir até nem foi uma tuna, mas sim o Coral de Letras em idos dos anos 60 do século passado.



"Durante a idade média, aliás, o comportamento boémio dos estudantes universitários, que viviam como trovadores e saltimbancos era um fenómeno comum por toda a Europa. A este tipo de estudantes dava-se o nome de Goliardos." (in http://webapps.fep.up.pt/tafep, Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com ,http://tunadestes.no.sapo.pt/tuna%20no%20lestes.htm,  http://cadernos-minhotos.blogspot.com e http://www.tauc.net/)

Como já aqui foi explicado, neste blogue, os Goliardos são uma inspiração, um laivo de romance na estória dos tunos. Não existe nenhuma relação ou descendência directa. Tão pouco os Goliardos eram saltimbancos ou trovadores. É o revivalismo romanceado do séc. XIX que pretende colocá-los na árvore geneológica da Tuna, mas o facto é que não existe qualquer parentesco que não "ideológico", pois os tunos e as tunas, no seu formato tuna-instituição, não são clérigos de conduta desregrada, nem sopistas carenciados que tocam para sobreviver. Tudo não passa do desejo de reavivar e copiar esse romantismo, à boa maneira do séc. XIX, reabilitando o "correr la tuna", mais como teoria do que como prática. Mais abaixo, regresso à questão dos trovadores e saltimbancos.




"Julga-se que o nome Tuna surgiu, porque muitas das tradições sopistas eram baseadas na atitude de um califa, boémio e mulherengo, de Tunes – Tunísia, que levava uma vida trovadoresca. Passava dias e noites a cantar pelas ruas e em grandes tainadas com os amigos e, pela noite, encantava as donzelas de Tunis com serenatas ao som do seu alaúde. Assim, os sopistas tinham sido influenciados por esse califa da Tunísia o que originou que, mais tarde, visto que o nome sopista já não condizia a realidade (os estudantes passaram a tocar para se divertirem e não para sobreviverem) e tornara-se depreciativo, os grupos de estudantes de tradição sopista se passassem a intitular Tunas." (in http://webapps.fep.up.pt/tafep/site2/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=14 ,http://tunadestes.no.sapo.pt/tuna%20no%20lestes.htm, Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com e http://cadernos-minhotos.blogspot.com e http://www.tauc.net/)

Tal como já foi dito, essa colagem carece de prova histórica. Não passa de romance ou história ficcionada. Seria o mesmo que dizer que a PSP que carregou contra os universitários na manifestação X se inspira na polícia universitária de antanho. Provável a teoria do "Thunes" francês, que significava esmola, mas nada a ver com um rei boémio.


"Esta origem remota no mundo Árabe desta tradição secular, a das Tunas, explica porquê que o bandolim desempenha um papel fundamental na sonoridade das Tunas, porque foi inspirado no Alaúde deste Califa." (in http://webapps.fep.up.pt/tafep/site2/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=14, Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com e http://www.tauc.net/)


E eu a pensar que o bandolim tinha origem no "rabat"árabe e chegara à península via Itália (onde nasce, de facto, sob 2 tipos distintos: o mandolino milanês e o bandolim napolitano)!!! Escuso-me a esticar-me em explicações. Quem quiser que leia e aprenda: http://notasemelodias.blogspot.com/2008/08/notas-sobre-instrumentos-cordofones.html



"Assim, muitos defendem que é nos jograis e trovadores da Idade Média que está a origem das Tunas Académicas, que apenas surgiram em Portugal no século XIX, nomeadamente na Universidade de Coimbra e na Universidade do Porto bv." (in http://tfufp.ufp.pt/historial.htm, http://webapps.fep.up.pt/tafep , Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com e http://www.tauc.net/)

Muitos defendem, mas defendem mal! Os trovadores não mendicavam porque mais abastados e de condição social diferente- eram nobres. Nada a ver, portanto, com os sopistas, esses sim os precursores dos nossos tunos. Os jograis e saltimbancos, por sua vez, estão mais perto da condição de sopista, contudo não eram estudantes e faziam dessa actividade profissão (ao contrário do sopista que era, esse sim, como que "mendigo"), pelo que, se não impossível, improvável, pelo menos.




"Certo califa lendário de Tunes (hoje capital de Tunísia), foi considerado "rei" de grupos de ociosos que deambulavam pelas ruas, tocando, em instrumentos de corda, canções populares, ao mesmo tempo que pediam dinheiro ou comida para o seu sustento.Este costume, passando para a Espanha pelo século XVI, foi adoptado por estudantes boémios, a denominarem-se tunos e os seus agrupamentos tunas; e sucessivamente difundiu-se pelo países onde se falava o castelhano, como por Portugal quando do domínio dos Filipes. Mantendo o hábito de deambular, juntaram às canções populares de folclore outras de feição poética e de amor; e por vezes com o cantar também dançavam. Mais tarde, transformaram-se em conjuntos artísticos de universitários, arautos das suas escolas, atitude curiosamente intensificada nas últimas décadas, a ser talvez protesto contra o supérfluo e o desvalor, e porventura por outros motivos a carecerem de estudo sociológico profundo.Além dos instrumentos de corda, a poderem ser numerosos, algumas tunas incorporaram violinos, flautas e recentemente até acordeons. A presença de uma ou mais pandeiretas, peças, aliás, de origem tunisina, é indispensável.
Conclui-se: se ser estudante é ter ânsia em saber e espírito jovem, ser tuno será exaltar em música e canto o ânimo de ser estudante e o vigor da juventude, virtudes a deverem ser permanentes e sem idade !"

(In http://magnatuna.iscsp.utl.pt, aludindo ao discurso do Prof. Dr. Aureliano da Fonseca, na abertura do I Conclave Tunae em 1995)

Para não repetir-me, apenas dizer o seguinte, para esclarecer o que, há pouco, deixei pendente: O termo "Califa" significa literalmente "Representante", e em alguns casos, "Sucessor do Profeta", sendo tanto um cargo político como religioso.Não me parece, por isso, que seja pessoa de andar a liderar pedintes e a fazer de folião. É uma questão de lógica, que diabo! Não se confunda "Thunes", "Thune" ou "Tune" que remetem para esmola e corte dos milagres (uma das origen prováveis do termo Tuna. O argumento do domínio Filipino para justificar a entrada do conceito Tuno/Tuna parece calçar que nem uma luva, mas carece de provas. è como dizer que só quando Javir Solana chefiou a NATO é que nós passámos a conhecer o Flamenco!




"A história das tunas académicas é algo que, ao contrário do que muitos poderão pensar, remonta à Idade Média, senão mesmo antes. Muito pouco se sabe ao certo sobre a evolução e a origem das tunas Académicas, apenas algumas lendas e alguns escassos trabalhos de recolha histórica nos permitem definir, aproximadamente o percurso das Tunas e dos Tunos desde a sua origem." (Pedro Guina in http://www.azoresdigital.com de 20-03-2007 e http://www.jf-nsfatima.pt/)

N&M- Não tarda remonta à antiguidade clássica com os tunos a vestirem togas e a tocar harpa!!! Sabe muito pouco quem quer ou quem se fica por aceitar comodamente e sem questionar qualquer boato ou estória que pareça verdade. Diz o ditado que "de livro fechado não sai letrado" e é bem verdade!




"Quando caía a noite e tocavam os sinos de recolha cantavam serenatas às donzelas que queriam conquistar, sendo, muitas vezes, perseguidos pelas polícias universitárias (visto que o recolher era obrigatório para os estudantes). Daí que os sopistas começaram a utilizar longas capas negras para que, envoltos na noite escura, se pudessem esconder dos polícias." (in http://cadernos-minhotos.blogspot.com e http://www.tauc.net/)

Sobre o traje académico, já amplamente se discorreu neste blogue, tal como a razão de ser da slongas capas negras(http://notasemelodias.blogspot.com/2007/10/notas-de-cor-sobre-capa-e-batina.html). É bonito, é à boa maneira do romantismo literário, mas não passa disso.




"Em Portugal, as Tunas, surgiram apenas em meados do séc. XIX e existem ainda factos bastante contraditórios sobre o surgimento destes grupos de jovens no nosso país. É já quase considerada uma lenda a história de que um grupo de estudantes de Coimbra se deslocou, um dia, a Espanha e, observando o sucesso que as Tunas por lá faziam, importaram a ideia para o nosso país." (in http://cadernos-minhotos.blogspot.com)

Não existem factos contraditórios, porque factos são isso mesmo: evidências. Existe é muita lenda e mito criados por românticos ou pessoas pouco esclarecidas que redobram de imaginação à falta de saber e conhecimentos mais aprofundados.



São apenas alguns casos, que ilustram, bem, a facilidade com que se usa, sem qualquer critério, o "copy-paste" e, neste caso, como o erro é fartas vezes copiado de uns sites para outros e, de tanto o ser, passa a afigurar-se como verdade incontestada.

Um dos textos mais copiados ou em que se inspiraram muitos outros, cujas citações acima constam, pertence a Nuno Camacho, texto esse publicado no portal www.portugaltunas.com a 29-11-2005.

Lamentável que sejam, muitas vezes, as próprias tunas e Tunos a promover, o erro e a cobrir-se (e cobrir-nos, a todos, enquanto comunidade) de ridículo.

Quem anda/andou no Ensino Superior (neste caso tunos), era já tempo de deixar certas pueris práticas liceais de copiar e colar sem sequer citar a fonte (como é habito nos estudantes menos sérios - e a que se chama plágio), sem questionar, e fundamentar, o saber que propala, e passar a verificar/confrontar fontes diversas (que não apenas as primeiras que encontram na net).



Nota: Todos os sites, foram contactados por mail, ou via "sistema de comentário", e alertados para as imprecisões constantes. Este artigo é escrito mais de 1 mês (no mínimo) sobre a chamada de atenção (verificando-se que nenhum procedeu a qualquer alteração até à data).

Poluídas Águas do Dão

Deparei-me com o seguinte video, acompanhado da respectiva letra, tema sobejamente conhecido, pertencente à Infantuna de Viseu, na página da Associação Académica do ISLA - Lisboa, a saber, Àguas do Dão (de António Vicente).
Interpreta (mal) a Tuna Mista do ISLA de Lisboa

Pena é que haja quem nem sequer se dê ao trabalho de copiar condignamente e adultere, de forma tão...... incauta.
Mais um exemplo de como não existe critério de excelência e qualidade em muitos apartados tunantes; mais grave quando é para reproduzir um tema de outra tuna.

É ver e, principalmente, ouvir a letra:




Letra, segundo a tuna em questão (a que interpus a devida correcção):

Quando Deus criou o mundo
Por bondade brincadeira (por bondade e brincadeira)
Fez o céu, depois a terra
E a seguir a bebedeira (e a seguir a parreira)É a alegria da vida
E a gente sente melhor (que a gente sente melhor)
O vinho é coisa santa
Não o beber superior (não o bebesse o Prior)

Refrão

Ai amor
Onde é que isto vai parar (como é que isto vai parar)
Foram as águas do Dão
Fiquei de pernas para o ar (fiquei de perna p'ró ar)

E quando falta a coragem
Para a garota conquistar (p'rá garota conquistar)
Há sempre uns copos a espera
Que nos podem ajudar
Em tempo de marração

Quando tudo corre mal
Uma noitada nas águas
Levanta logo a moral

Palavras para quê?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Alfaiataria Tunante - Documento curioso

Dese já agradecendo ao meu amigo Mário da Cuarentuna La Coruña pelo material que me trouxe, quando esteve pelas nossas terras em Junho passado, partilho esta preciosidade.

É um desenho, um modelo, respeitante ao traje de tuno espanhol, que os alfaiates (alguns) utilizam para conceber o dito traje. Este desenho permite tirar as medidas correspondentes de forma precisa e, obviamente, ajustar a peça pra que esta possa cair "que nem uma luva".

Note-se haver cuidado na zona da axila, permitindo deixar mais pano para suprir a amplitude de braço necessária ao mester de pandeireta. Uma "tesourada" bem pensada, sem dúvida.

Pena que, por cá, ainda não se tenha aplicado esse procedimento às batinas ou afins, para que os nossos pandeiretas actuem de igual forma que os demais colegas de tuna (os invés de ficarem inesteticamente em colete).