sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Viagem ao passado

Ao som daquele que será, porventura, o mais belo tema nas tunas espanholas, Imagenes de Ayer, um video que faz um rápido percurso em imagens (parte delas do acervo do Museo Internacional del Estudiante) da diagese tunante do país vizinho.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O cliché de "O meu conceito de Tuna"

Porque importa realçar, de quando em vez, quem escreve bem, e sabe o que escreve; porque importa fazer eco daquilo que é essencial - e, mais ainda, quando não se tem muito para dizer (ou tempo, até), ler e ouvir quem tem, reproduzo um artigo do colega "As Minhas Aventuras na Tunolândia" que, de forma sucinta e certeira, abordar a questão dos "entendimentos" (que bastas vezes foi aqui referido) e da "mania" que alguns têm (usualmente por arrogante ignorância e autismo umbilical) de achar que a sua medida auto-sustenta o que não passa de miragem.
Vale a pena a leitura, mas ainda ainda a subsequente auto-reflexão crítica.


"A Aventura do "Conceito" de Tuna

Não me restam muitas mais dúvidas a este respeito, salvaguardando uma ou outra mais preemente até por força do estudo empreendido desde há uns anos a esta parte. Em amena cavaqueira com um Tuno, dizia-me ele a dado passo que " ...e segundo o meu conceito de Tuna". Ora, aqui mora um dos maiores equívocos genéticos oriundos do "boom" tunante e que se prolongou até aos dias de hoje, com cada mais ênfase. É que, por muito que custe ler isto, não há, e no caso português, a ideia de "meu conceito de Tuna", lamento informar.

A imensa Babilónia de paletes e resmas de "meus conceitos de Tuna" é somente uma construção muito própria, individual e perfeitamente única que cada um faz quando chega a este mundo particular, não raras vezes confundido com o conceito "a minha forma de estar na Tuna" - uns assim, outros assado e por aí fora - e que se cruza com um 3º conceito ainda, que é a prática reiterada da Academia/Tuna onde se insere. Uma coisa será a forma que cada um tem de estar na Tuna, outra é ainda a forma como o seu meio o molda e define na sua atitude perante a Tuna. Agora, conceito de Tuna Universitária só há um, não há um por cada Tuno porque isso é um tremendo exercício de egoísmo egocêntrico que não raras vezes serve para auto-justificar coisas que, de outro modo, nunca fariam em casa, no trabalho, na sociedade em geral.

Evidentemente que "o meu conceito de Tuna" é um dos maiores inimigos da Tradição Tunante per sí, sem mais delongas, precisamente porque ao livre arbítrio de cada douta cabecinha e não inserido nas naturais linhas delimitadoras de um fenómeno cultural.

Imagine-se por disparate (!!??) que cada romeiro da Senhora da Agonia tinha o "seu conceito de folclore minhoto" ou então que cada Fallera Valenciana tinha o "seu conceito de Fallas": Corriamos o sério risco de ver Minhotas de mini-saía ou Falleras vestidas de bombeiro a apagar as fogueiras. Por aqui se percebe o risco tremendo de medir uma tradição cultural delimitada no temnpo e espaço pelo nosso "conceito de Tuna".

Por força da explosão tunante de idos de 80/90 do Século passado, onde o fenómeno ultrapassou rapidamente a velocidade a que deveria ter andado, sem pontos de referência históricos onde se sustentasse, por falta do pensar a Tuna universitária, delimitando-a no tempo e espaço enquanto tradição cultural, tudo foi paulatinamente "permitido" à sombra do "meu conceito de Tuna". Esta frase é - e com o devido respeito - o Haiti de hoje da Tuna nacional, é um escombro sobre a Tuna, é a pilhagem da Tuna enquanto cultura, é a tragédia. É à sombra do "meu conceito de Tuna" que surgem "coisas" no seu seio dignas de algo que pode ter o seu valor intrínseco mas que de Tuna nada tem. Quem disse que o conceito de Tuna Universitária é algo democratico e democratizante, qual Wikipédia onde todos podem editar, cortar e colar?

Só há um conceito de Tuna Universitária. Há sim várias formas de a exprimir, de a reproduzir, que balizadas pelo óbvio, aceitável e digno, me parecem altamente interessantes. Daí em diante é o "conceito de Tuna" do Quim das Iscas que, de uma segunda para terça, se lembra de formar uma Tuna com sampler´s dizendo alto e bom som " é o meu conceito de Tuna". E isso, santa paciência, não é uma Tuna, é o que ele quer fazer pura e simplesmente á custa da Tuna.

A frase " o meu conceito de Tuna" para lá de uma tremenda irresponsabilidade, é de uma arrogância brutal, ofensiva da Tuna enquanto cultura e no limite, uma barbaridade que vai sustentando certas palhaçadas a que vamos assistindo. " 
(in http://asminhasaventurasnatunolandia.blogspot.com/2010/01/aventura-do-conceito-de-tuna.html)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Memória da Tuna, por Eduardo Coelho

Desta feita, um belíssimo artigo, colocado no PortugalTunas, e datado de Fevereiro de 2009, pela mão do ilustre Eduardo Coelho.
Vale a pena a (re)leitura:

"A MEMÓRIA DA TUNA


Por estes dias, muito se tem falado da importância do estudo do fenómeno tuna.



Parece que a preocupação não é só de hoje nem exclusiva de alguns. A julgar pelo muito que se tem debatido no fórum do Ptunas - e sobre os mais diversos aspectos –, dos aprendizes, passando pelos oficiais e terminando nos mestres, a corporação dos tunos manifesta, de forma geral, interesse em conhecer. Alguns, mais raros, manifestam interesse em saber. Outros ainda, e ainda mais raros, procura saber mais.



Resta determinar: saber o quê? De que se anda à procura? E, ponto mais importante: «saber» para fazer o quê com esse conhecimento?


Contudo, o que parece andar arredado dos espíritos é que nós só podemos vir a saber (futuro) aquilo que já se fez (passado). Estamos, assim, dependentes das fontes... ou falta delas.


Ou falta delas.


E já nem é só a nível de quantidade: a qualidade é também um factor primordial. Boa ou má, é a que existe, e é só com base nessas mesmas fontes que se pode interpretar o passado. Não é possível ressuscitar os protagonistas, nem interrogá-los através de um copo, para que a verdade que nos chega do passado possa ser confirmada/infirmada.


Basta pensarmos que, regra geral, as fontes não são de primeira-mão: isto é, raros foram os protagonistas que nos deixaram testemunhos directos (escritos, fotografados) das suas vivências/motivações. De uma forma geral, são terceiros (jornalistas, cronistas, romancistas, simples espectadores) quem nos abre uma janela sobre esses momentos. Assim, há que contar com uma certa dose de distorção – da mais maldosa à mais inocente – na consulta das fontes históricas.



Quantas vezes não são os autores dos documentos quem atribui a si próprios a paternidade de filhos que não tiveram? Quantas vezes não são a inveja, a malevolência e a rivalidade mesquinha a escrever, a filtrar, a ocultar, ou, pelo contrário, o partidarismo, a realçar, a pôr em evidência (e a ocultar, também) os aspectos mais positivos ou mais negativos (conforme os casos) deste ou daquele indivíduo, desta ou daquela instituição? Mesmo assim, a janela, a pintura, a fotografia, a radiografia só nos deixam ver aquilo que está enquadrado pelo obturador do pensamento de quem as revelou, produziu, retocou, ampliou, recortou, segmentou, colou, coloriu.



Falou-se de passado e futuro. Então e o presente?



Tão importante como a procura das fontes do passado é a criação/preservação de fontes para o futuro. Este é o grande trabalho do presente e o melhor património que podemos legar às gerações vindouras: a memória. Mas uma memória tal como cada um de nós a possui: com os bons e os maus momentos; com as alegrias e as fustrações; com o que nos faz estourar de orgulho e corar de vergonha no mais íntimo de nós próprios



Na esmagadora maioria dos casos – se não em todos os casos - , as tunas preocupam-se mais com a sua actividade do que com a preservação da memória dessas actividades. Há magisteres, secretários, bispos, freiras, cavaleiros, noviços... enfim, títulos para todos os gostos. O que não há é... arquivistas com essa função específica e bem definida, nem me parece que esse aspecto seja particularmente valorizado. É importante que cada Tuna-instituição, cada tunante, por si só, dê o seu contributo: preserve a sua própria memória.



E neste particular cabe desde já uma palavra de apreço ao PortugalTunas pelo trabalho que tem vindo a fazer. Ao proporcionar esta plataforma de (des)encontro entre os intervenientes, ao permitir a livre exposição (alguns dirão que não) de pontos de vista, relatos de experiência, discussões por vezes azedas, está já a constituir um dos mais preciosos acervos documentais a que o futuro há-de ter acesso.



O que nos traz de volta às questões iniciais: saber para quê? Que fazer com esse saber?



Há quem queira estudar o passado sob todas as suas vertentes, as luminosas e as sombrias, apenas com o objectivo de saber quem é e donde veio; por que se faz assim ou assado – ou que sentido faz hoje continuar a fazer-se assim ou assado.



Contudo, para muitos outros, o primeiro grande objectivo do estudo do passado é a procura de legitimidade para os comportamentos presentes – particularmente quando esses comportamentos não são legítimos. Hitler desencantou uma raça ariana. Mussolini tentou reconstituir o Império Romano. Salazar virou-se para a Lusitânia. João Baptista da Silva Leitão acrescentou aos seus apelidos «de Almeida Garrett» (com dois «tt» é mais fino). A Sr.ª Maria descobriu que já uma madrinha da sua tia Alzira tinha a bancada de peixe no Bolhão desde o tempo dos Descobrimentos... e por aí adiante.



Quantas guerras, evangelizações, pretensões, heranças, direitos, foram reclamados, justificados, declarados, exigidos em nome de um qualquer passado mal amanhado por entre duas nesgas de papel colado com cuspe e ao qual se deu o nome pomposo de investigação histórica?



Estes são sempre os mais interessados em que se estude o passado – ou melhor um passado que seja feito à medida das respectivas conveniências. Curiosamente, são, regra geral, os que não possuem passado nenhum.



É esta busca desenfreada da legitimização que faz com que se veja por vezes aquilo que não está escrito, fotografado, num exercício de reconstrução do que não foi captado pela objectiva ou do que está escrito nas entrelinhas. E de uma forma tão ruidosa que faz com que se invertam completamente os valores: isto é, que se ignore o que está no papel e se dê toda a importância ao que lá não está.



Saber, sim: mas... saber para quê?



Abraço e


BOA MÚSICA!

Eduardo Coelho "