terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tuna Compostelana em Lisboa, 1904

Foto Central da Tuna Compostelana
Illustração Portugueza N.º 17, p. 264,  29 Fevereiro de 1904
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)
Illustração Portugueza N.º 17, p. 16,  29 Fevereiro de 1904
(Hemeroteca Municipal de Lisboa)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Confusão entre Estudantina e Tuna

Não é de hoje que a questão se coloca em saber (se é que é questão de saber, sequer) se Estudantina é o mesmo que Tuna.
Há quem diga que são coisas diferentes, há gente que o jura a pés juntos, há por aí quem pretenda que assim seja.
A esses responder-se-ia liminarmente: há gente que não sabe o que diz, há gente ignorante, há quem jure sobre aquilo que desconhece por inteiro.......há gente que não sabe, não pensa e nem faz o mínimo esforço intelectual de uma reflexão crítica e suportada na sofia.

Tão simples seria que esses ditos defensores da disjunção se dessem ao trabalho, pelo menos, de consultar uma meia dúzia de dicionários de referência para, pelo menos, perceber que se trata da mesmíssima coisa, que são termos sinónimos.
Já não se pede que passem a pente fino os dicionários de referência que foram sendo publicados em Espanha e Portugal desde o séc. XVIII, começando por Bluteau e pelo dicionário de Autoridades (Real Academia Espanhola), sem esquecer os grandes dicionários enciclopédicos, as diversas enciclopédias e outros tantos de música e história da música.
Não se exige que tenham acesso à BNP ou Torre do Tombo (porque nem todos o conseguem, dada a distância geográfica), mas há na net muito por onde procurar, implementada que está a disponibilização de inúmeros livros digitalizados, bem como muitas bibliotecas universitárias (Coimbra, Porto, etc.) onde certamente encontrarão alguma coisa mais que os dicionários mais conhecidos, e mais credíveis da actualidade (Lello, Houaiss, Academia das Ciências).
Não veham, pois, alguns, tentar enfiar patranhas e vender banha da cobra, tentando enganar os ingénuos e, pior ainda, tentar ensinar a missa ao padre.

Há quem chegue a afirmar que estudantinas são tunas que tocam essencialmente música popular e que as Tunas são as que tocam de tudo um pouco. Há quem afirme que Estudantina é assim a modos que.... algo diferente das Tunas (mesmo que acabe por desenvolver a sua actividade no meio tunante), como que para se augurar o direito de pretensa superioridade ou diferença......que não encontra argumentos, de facto (porque não existem sequer, valha-nos Santa Cecília!).

Não, não são coisas diferentes. São coisas exactamente iguais, mas com nomes diferentes (contudo sinónimos).

A Estudantinas nascem em Espanha, derivadas das comparsas carnavalescas, das Bigornias Assim, no séc. XIX, a esses grupos, às comparsas, exclusivamente compostas de estudantes (fosse qual fosse o grau de ensino - por norma liceus, escolas politécnicas, comerciais, etc.) deu-se o nome de "Estudiantinas" - nome provavelmente dado pelo povo a esses grupos (mas não há como saber se foram os estudantes que escolheram esse nome ou não).
Rapidamente chegam a Portugal (uma questão de pouquíssimos anos), onde a fama de uma Estudiantina Fígaro, Estudantina Pignatelli (entre outras), a par com as visitas da Tuna Compostelana, de Salamanca e Valladolid a Portugal, despoleta o 1º grande fenómeno tunante em Portugal.
Em Espanha, o que sucede é que, rapidamente, se criam estudantinas formadas por outras classes, passando a haver estudantinas de operários, de artesãos, estudantinas de gente que se disfarçava de estudantes, criando uma grande confusão (ou pelo menos impedindo um satus próprio aos grupos exclusivamente estudantis). Na América latina, por exemplo, há Estudiantinas de artesãos, de senhoristas.....de tudo um pouco (devido à corruptela do termo)
Em razão disso é que se começa a adoptar o termo Tuna (termo recuperado do conceito do "correr la tuna"), para designar as estudantinas compostas exclusivamente por estudantes.
O facto é que, em Espanha, essa estratégia veio a verificar-se acertada, porque mais ninguém, que não fosse estudante, ousou adoptar essa designação.

Em Portugal não acontece o mesmo. Tanto há estudantinas de estudantes como de populares (nomeadamente em meio urbano), e o termo Tuna (que a Estudantina de Coimbra de 1888 adopta por volta de 1890, cerca de 10 anos após a sua fundação, por exemplo), acaba por ser, também ele, apropriado pelo povo, com especial incidência no meio rural (que ainda hoje perdura).

Em ambos os casos, Estudantina e Tuna dizem respeito a um formato ou tipologia referente ao elenco de instrumentos utilizados, a saber cordofones (a par com percussão ligeira, pandeireta, bombo, castanholas; de flautas doces e, mais tarde, acordeão). Essa é a razão pela qual se acrescentou a designação "Académica" (e mais tarde "Universitária") paa diferenciar as tunas estudantis das demais.

Querer emprestar dicotomias, entendimentos e naturezas diferenciadas à Tuna e Estudantina é patetice e ignorância.
Cada tuna/estudantina é diferente das demais, pelos simples facto de, à partida, serem compostas por indivíduos diferentes, por serem de cidades ou instituições diferentes. Há quem prefira covers, outros originais (e outros ambos); há quem incida mais em temas populares, outros em temas mais eruditos (outros ambos); há quem seja mais do estilo aprumadinho e outros um pouco mais irreverentes (sem cair no exagero que por aí se vai vendo); uns são mais sérios, outros mais efusivos; uns mais amadores e outros mais profissionais, e assim por diante.
Mas justificar essas diferenças na necessidade de espartir designações, não é argumento, não é plausível, não cabe na cabeça de ninguém.....excepto daqueles que de tunas e estudantinas percebem tanto como eu de lagares de azeite.

Em gente letrada, que cursa (ou cursou) ensino superior, em gente que se diz tuno/estudantino (que é a mesmíssima coisa), quantos tiros dados nos pés, minha gente; quanta incoerência, quão lastimável ver alguns a fazerem prova de tamanha incompetência; quão pálida imagem dão alguns de uma realidade sobre a qual deveriam ser exemplo de conhecimento, mas que afinal tão pouco sabem daquilo que dizem promover e viver.

Pelos lados da EUC há quem defenda que não são uma Tuna, que a sua Estudantina é um foro à parte. Mas por mais que a EUC ocupe um lugar especial na história tunante portuguesa, há afirmações que se apresentam vazias e apenas transpiram narcisismo e presunção de superioridade que não condiz.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

600 anos de pseudo-tradição tunante

Quando passamos os olhos por inúmero sites e bibliografa diversa, é comum encontrarmos referências com chancela de dogma, de que a Tuna é uma tradição de 6 séculos, provinda do tempo dos goliardos e dos sopistas,  ou seja uma mui antiga tradição com raízes nas primeiras universidades, blá, blá, blá........ : os argumentos e teses do costume.
Muitos distintos estudiosos partem desse princípio, mesmo que a quase a totalidade deles nunca tenha realizado um estudo profundo e imparcial sobre isso. Aliás, até mesmo em Emilio de la Cruz Aguilar se nota, como em tantos outros, um parcialismo que leva a omitir muitos factos e a colar outros tantos, num exercício similar ao que Dan Brown fez com o Código da Vinci, resultando desse mesmo exercício criativo, uma plausibilidade que poucos questionam, mas que não deixa de ser romance histórico ficcionado.
Tornou-se, pois, pilar histórico de que a Tuna é uma longa tradição de séculos e séculos.
Assim fomos educados e ensinados, é facto.

Quanto disso é, de facto, verdade?

Ora, aí está o grande problema. Quando estudamos, de forma sistemática, com critérios e metodologia investigativa séria, sabemos poder encontrar dados que poderão, eventualmente, desconstruir um conjunto considerável de verdades que até nós mesmos julgávamos inquestionáveis.
É o risco que se corre quando se esgravata o passado, quando se passam longas horas em arquivos perdidos em catacumbas, em documentos esquecidos pelo tempo, quando alguém decide ir mais além das lições canónicas reproduzidas vezes sem conta, tal programa educativo, onde nada se questiona e tudo se decora eassimila como verdade, à boa moda do ensino da história na China ou na Rússia ou, para não irmos tão longe, do país em tempo do Estado Novo.

Sem adiantar, em demasia, aquilo que, em breve, estará nos escaparates, por mão do CoSaGaPe, e baseando-me na informação resultante dessa investigação, desde logo desmistificar e dizer que não. Não, a Tuna não é um tradição de 6 séculos, mas de apenas 1 (um), porque apenas surgida na 2ª metade do séc. XIX, derivada das comparsas carnavalescas que vieram a dar em estudantinas e, aí sim, mais tarde (com o objectivo de distinguir as estudantinas estudantis das populares) o aparecimento da terminologia Tuna, como identificativa de formato musical composta apenas por estudantes (algo que funcionou em Espanha, mas que por cá não, dado que também o foro popular, rural e urbano, adopta e se apropria quer do termo Estudantina, quer do termo Tuna).
Aliás, é nessa altura que, para diferenciar os estudantes dos demais, estes, escolhem o termo tuna, recuperando o vocábulo da sua longa história e diagese, semelhante que era a sua significância com o carácter irreverente, algo libertino e inconformado da jovial idade - tão semelhante, e tantas vezes cruzada, era a vida de muitos estudantes abandonados ao ócio em detrimento do estudo.
É pois, nesse altura, que nascem os tunos (epíteto que passa a significar aquele que pertence a uma tuna), sendo que antes tinha carga adjectival, que tanto podia ser usada para caracterizar um estudante como um pedreiro (significando trapaceiro, embusteiro....).

Antes disso, os estudantes que formavam as comparsas e a estudantinas eram apenas estudantes, eram apenas membros/elementos da comparsa ou da estudantina. Veja-se, por exemplo, que são inúmeras as referências que dizem "los estudiantes de la tuna", ao invés, simplesmente de "tunos", e que, outras tantas vezes se noticiam as tunas nas suas digressões, mas se diz a respeito dos seus componentes que eram apenas estudantes (e não tunos). Significa, isso que, durante algum tempo, a designação "tuno", para referir o estudante pertencente à tuna, não estava ainda em uso, ou em uso generalizado.

Dizer, pois, que antes do séc. XIX não existiam tunas; nunca existiram, segundo os documentos existentes à data.
Antes disso existia o "correr la tuna", o "andar à tuna" (e todos os vocábulos pertencentes à respectiva família de palavras) com a significância de andar vagueando, de mendicidade, de trapaça, de boémia, de marginalidade....no fundo, um conjunto de conceitos que eram pejorativos, tanto aplicados as estudantes como não (aliás não existe distinção sequer).

Obviamente que, pelo prestígio que lhe advinha de estudar na universidade, a figura do estudante acabou por sobressair como paradigma, o que facilitou a tarefa de o pintar das formas mais românticas (e parciais, diga-se), à boa maneira da literatura de cordel da época, enchendo ideários juvenis daquelas sempre presentes imagens quixotescas e dos intemporais romances de capa e espada.
Convenientemente, apagou-se, ou omitiu-se, todo, ou parte, do carácter pejorativo que constituía ser apelidado de tuno ou  dizer de alguém que andava à tuna, na larga maioria dos escritos e estudos sobre este fenómeno (e veja-se que os autores são todos tunos, logo extremamente parciais na escolha dos dados que constituem a sua narrativa).


Só os dicionários mantiveram incólume, ao longo dos séculos, os significados dos termos tuna, tuno, tunante, tunanteiro, etc., sendo que apenas em finais do séc. XIX, e já  no séc. XX, surgem as primeiras referências a Tuna/Estudantina (termos sinónimos) como sendo grupo musical, como formato caracterizado pro ser constituído por instrumentos de cordas.

E as ditas tradições que viriam desde os tempos remotos dos goliardos, dos sopistas, pícaros, etc?

Bem, neste caso, temos  de ir até ao tempo do Franquismo e perceber a influência que o S.E.U. (Sindicato Espanhol Universitário) teve na diagese da Tuna.

Foi nessa altura que a Tuna ganha uma formalidade, regras e enquadramento unificador até aí inexistentes. Mesmo que imposta, essa nova política acabará, no entender de muitos, por trazer enormes benefícios na promoção e salvaguarda do fenómeno.
Com a adopção do traje (o que actualmente conhecemos) e um controle rigoroso sobre o reconhecimento inter-pares e reconhecimento pelo próprio sindicato (para se ser Tuna, e para a ela pertencer, havia que receber autorização e estar em conformidade com os parâmetros definidos pelo regime), a tuna continuava a ser meramente um grupo musical, como sempre o fora até então (e caí aqui mais um mito intemporal).


A Tuna precisava de "pedigree" que suportasse, inclusive, o próprio traje (recuperado dos tempos do Siglo de Oropela Estudiantina Fígaro - supostamente uma mescla de panos de várias épocas retirados do guarda-roupa de um teatro madrileno, conforme atestam os especialistas, dado que, até aí, não existiam becas e jibões, mas apenas o traje escolar, cujo o porte obrigatório fora abolido).


Onde ir buscar?
Nada melhor do que aos muitos costumes estudantis que sempre se registaram ao longo da história, escolhendo/seleccionando os que mais se adequavam à Tuna, adaptando e adequando e, no fundo, tentando uma enxertia que, temos de convir, era fácil e lógica de realizar. De certo modo, acabam as tunas, em Espanha, por recuperar e preservar, muitas tradições que tinham caído em desuso ou no esquecimento,nomeadamente com a abolição do traje escolar.

Não se descarta, de todo, a existência de praxis antes do tempo do S.E.U., dado que, tratando-se de estudantes, e tratando-se de organizações, seria normal que as estudantinas e tunas do séc. XIX tivessem os seus ritos e regras internas (a hierarquia e o respeito pela mesma é algo inerente a qualquer grupo organizado), mas o facto é que só a partir do S.E.U. há indícios claros de práticas que reconhecemos, hoje em dia, como próprias da cultura tunante.


Assim, aquilo a que chamamos de longa tradição tunante mais não é do que a reprodução, adaptada e contextualizada da Praxe Académica, da relação entre novos e veteranos, daí os baptismos e as hierarquias, e os muitos usos similares aos que encontramos na relação entre caloiros e veteranos. A isso se acrescentaram outros ritos e práticas entretanto criados, mas sempre na esfera do acima dito, e sempre na cópia ou inspiração de uma pretensa herança secular (que o é, mas não da Tuna, mas sim dos estudantes).

Em suma, a praxis tunante, a sua tradição centenária, mais não é do que um conjunto adaptado e provindo de uma tradição que não tunante, mas meramente estudantil; um conjunto de ritos importados e criteriosamente escolhidos para se adequarem à Tuna e, assim, lhe conferirem o tal "pedigree".

Hoje são uma cultura muito própria, são uma tradição, mas que convém não confundir, por mais truncado que possa parecer o assunto.

Essa colagem natural, não fosse a tuna constituída por estudantes, não deve, contudo, esconder o sol com a peneira. Não é por os tunos terem adoptado certos usos e costumes estudantis seculares que tal significa que a própria tuna seja tão secular quanto os costumes que assimilou, adoptou e passou a reproduzir.


A Tradição Tunante inicia-se, como acima dito, na 2ª metade do séc. XIX, meramente como expressão musical, só mais tarde se revestindo de práticas e ritos que lhe conferiram o cunho sui generis com que chegou aos dias de hoje.

Querer fazer dos goliardos, sopistas e afins, os tunos de outrora, é uma tentação em que muitos se deixaram cair, fruto do desejo de dar à Tuna uma árvore geneológica mais "nobre" e ancestral, por muito de similar e de parecenças que possamos estabelecer.


Se quisermos, até certo ponto, podemos estabelecer a analogia com os ranchos folclóricos que são, também eles, uma criação "recente" (primeiras décadas do séc. XX) e que reproduzem danças e cantares de outrora, de danças e cantos que o povo sempre cultivou de forma espontânea, sem cariz institucional ou performativo, não significando, com isso, que sejam herdeiros das danças tribais da idade da pedra ou dos bailes medievais ou que existissem ranchos no tempo de Francisco Quevedo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

VII Jantar de aniversário do PortugalTunas (Viseu 2010)


PROGRAMA


15 horas - Ponto de Encontro e Dão Baco
Local: Restaurante Rio Sul (junto ao Forum Viseu)
Morada: Rua Ponte de Pau.
Contacto: 965408253; 967500835

19 Horas – Jantar
Local: Restaurante Rio Sul (junto à Universidade Católica)
Morada: Estrada da Circunvalação

Contacto: 965408253; 967500835

EMENTA:

Entradas: Caipirinha, Lancheira, Pão com manteiga, Azeitonas, Salgados
Prato Quente de Carne: Grelhada Mista
Bebida à descrição: vinho, cerveja, água, sumos.
Sobremesa: doces variados, salada de fruta
Café
Oferta surpresa a todos os participantes


24 Horas – Festa
Local: Noite Biba (NB)
Morada: Rua Conselheiro Afonso de Melo


PREÇO POR PESSOA:  10 euros


RESERVAS

As reservas serão feitas até dia 23 de Fevereiro para o mail jantarpt@gmail.com.
A reserva apenas será confirmada após envio de comprovativo de pagamento para o NIB 003509300010454823007